Cerca de 30 mil pessoas compareceram ao show com holograma de Cazuza, realizado pela GVT, empresa de telecomunicações, no Parque da Juventude em São Paulo. O fluxo de gente era tamanho que, ao final do evento a estação de trem Carandiru, da Linha Azul de trem da CTPM, foi fechada por excesso passageiros, os quais tiveram que se dirigir à estação Santana, a 500 metros dali.
Marcado para às 19h (Conforme Evento do Facebook da GVT), o show só teve início cerca de 2 horas depois. Muitas pessoas irritadas e algumas irritadas e muito loucas vaiaram o cerimonial de abertura e a propaganda projetada nos telões, que, como não poderia ser diferente, versaram sobre os novos empreendimentos da GVT.
Iniciado o espetáculo, grandes nomes do rock e da MPB como, Paulo Ricaro, Gal Costa, Leoni, Nilo Romero e Arnaldo Brandão, conduziram a homenagem amparados pelos arranjos e direção musical do maestro Lincoln Olivetti, que deu um colorido diferente às canções de Cazuza, inserindo cordas e sopros, respeitosamente, sem comprometer os arranjos originais.
Antes do tão aguardado holograma de Cazuza, o show, muito bem produzido por Nilo Romero e Arnaldo Brandão, teve como repertório os maiores hits de da obra do poeta exagerado, como Brasil, Pro Dia Nascer Feliz, Malandragem, Ideologia, Eu Preciso Dizer que Te Amo, Codinome Beija-Flor, Todo Amor Que Houver nessa Vida, Faz Parte do Meu Show.
Cada um dos artistas somou ao evento o seu talento: Paulo Ricardo (voz), Gal Costa (Voz), Nilo Romero (Produção de Cazuza/Baixo) George Israel (sax e violão), Arnaldo Brandão (baixista, coautor de “O Tempo Não Para”), Leoni (guitarra, parceiro de “Exagerado”), Rogerio Meanda (guitarra, autor de “O Nosso Amor a Gente Inventa”) e Guto Goffi (baterista e fundador do Barão Vermelho)
Parece que não usaram teleprompter, pois alguns enganos nas letras irritaram os fãs de Cazuza, quando Paulo Ricardo cantou "E as ilusões foram todas vendidas" em vez de "perdidas", na música Ideologia e quando suprimiu o verso "como varizes que vão aumentando" e adiantou "como insetos em volta da lâmpada", ai um verso ficou em branco no Blues da Piedade.
Chegado o grande momento da aparição do holograma de Cazuza, os fãs se emocionaram: "Foi legal... A parte do holograma então... Eu nunca fiquei tão emocionado na minha vida como fiquei no show. Foi lindo!" (Michel Andrews); "Ele atingiu o objetivo: emocionar" (Felipe Feitosa); "[...] Parecia que estava vendo ele mesmo! [...]" (Giovana Rosa Barros); "Achei uma homenagem autêntica, fiel, à altura do que boa parte dos fãs desejavam." (Rose Almeida).
Sobre a qualidade do holograma, há divergência, pois nem todos assistiram de um bom ângulo e acabaram vendo algo diferente do que esperavam. "Quem estava a 10 metros não via. Estava escuro. Além do mais, parecia um mendigo (faltou desenvolver melhor a parte gráfica) (Felipe Feitosa); "Pessoas que estavam na grade, bem ao centro, disseram que parecia a projeção de um cover do artista numa tela preta apenas. Eu e outras pessoas, que estavam a 80 m ou 100 m de distância, mais na lateral, tivemos a sensação de profundidade e volume na imagem. [...] Quem esperava que o holograma fosse "mais real", precisa considerar que as dimensões do palco, a intensidade de iluminação, a captação e a projeção de imagens foram determinadas para que se atingisse o melhor padrão de visualização possível dentro daquela realidade [...] Na comparação com o holograma do Renato Russo (que só apareceu em uma música, sem qualquer áudio de falas de interação com o público), há quem considere uma defasagem no aspecto gráfico, mas outros acharam o Cazuza melhor" (Rose Almeida). Há até um grupo discutindo isso no facebook.
Entre idas e vindas, o holograma de Cazuza esteve no palco por cerca de 18 minutos com as canções: Exagerado, Faz Parte do Meu Show, Amor Amor, O Tempo Não Para e Brasil, sendo o "gran finale" do show, que, antes do holograma durou quase duas horas e depois do holograma tocou trechos das faixas Bete Balanço para o público cantar e, por fim, o bis de Pro Dia Nascer Feliz.
O GVT Music Live – Show Cazuza voltará, também com entrada gratuita, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, no dia 19 de janeiro.
Renato Zuza.
Veja o que disse a revista Rolling Stone:
Eram 29.600 pessoas no Parque da Juventude. Todos movidos até a zona norte paulistana por um mesmo motivo: Cazuza. O músico, que morreu em 7 de julho de 1990, aos 32 anos, foi “ressuscitado” graças à tecnologia e apareceu em forma de holograma na noite deste sábado, 30.
O fim da tarde chegou com muito vento e uma garoa fina, mas nada que parecesse espantar os fãs que chegavam aos montes. Os gritos de começa começaram ainda às 20h30, após uma hora e meia desde que a música ambiente começou. De acordo com a produção do evento, o show estava marcado para às 21h.
E, pontualmente, teve início o GVT Music Live – Show Cazuza. George Israel (sax e violão), Nilo Romero (produtor musical de Cazuza e do show), Arnaldo Brandão (baixista, coautor de “O Tempo Não Para”), Leoni (guitarra, parceiro de “Exagerado”), Rogerio Meanda (guitarra, autor de “O Nosso Amor a Gente Inventa”) e Guto Goffi (baterista do Barão Vermelho) deram início à festa em luto. Neste mesmo sábado, morreu o pai de Cazuza, João Araújo, um dos mais importantes produtores e executivos do mercado fonográfico brasileiro.
“Este é um show de homenagem. Uma homenagem a Cazuza, mas também a João”, disse Nilo Romero. A orquestra de cordas lideradas por Lincoln Olivetti, então, deu início à introdução instrumental até a chegada da primeira convidada especial da noite, Gal Costa. A baiana, cujo início de carreira foi diretamente ligado ao pai de Cazuza, cantou “Brasil”, com arranjos festivos, pendendo para o samba.
Quando Gal deixa o palco, o show entrou no ritmo que seguirá ao longo das quase duas horas. Leoni, George, Nilo e Arnaldo se revezam nos vocais. “Pro Dia Nascer Feliz”, lançadas nos tempos de Barão Vermelho, veio na sequência, cantada por Leoni.
Os músicos distribuíam sorrisos e palavras de carinho a Cazuza e ao público presente. Era possível perceber o quanto público e músicos estavam emocionados em estarem ali e a resposta da plateia era vibrante a cada música. Todos, do lado de cá e de lá, trazem boas histórias com Cazuza – ou com os versos dele como trilha sonora.
“A gente sabe o quanto Cazuza era festeiro”, disparou George ao microfone, antes de “Malandragem”, composição do músico homenageado e Frejat, gravada por Cássia Eller. No palco, ninguém queria deixar por menos. Nem mesmo Paulo Ricardo, convidado para a música seguinte, “Ideologia”, deixou a bola cair.
Ainda que Cazuza tivesse um talento raro para criar versos vorazes e ácidos, que retratavam a juventude de sua época como um cronista único, como “O Tempo Não Para” e “Ideologia”, era nas canções de amor que ele jorrava talento. As palavras, saídas da cabeça e coração do carioca, tinham uma força quase mágica de abrir as feridas das mais profundas, sem perder a delicadeza.
É como “Eu quero a sorte de um amor tranquilo / Com sabor de fruta mordida / Nós na batida, no embalo da rede / Matando a sede na saliva”, de “Todo o Amor que Houver Nessa Vida”, ou “E até o tempo passa arrastado / Só pra eu ficar do teu lado / Você me chora dores de outro amor / Se abre e acaba comigo / E nessa novela eu não quero / Ser teu amigo”, de “Preciso Dizer que Te Amo”. A última, e a dolorosa “Codinome Beija-Flor”, são cantadas em um momento mais intimista, Gal Costa e a orquestra de metais de Lincoln Olivetti.
Apenas às 22h25, a banda sai, para que o tudo fosse ajustado para a exibição do holograma de Cazuza. Cinco minutos depois, estavam todos de volta e o palco, agora, era mais fundo, enquanto a banda se posicionava nas extremidades laterais.
Com “Exagerado”, Cazuza apareceu a frente de um fundo preto, de camisa sobre uma camiseta branca, óculos escuros, calça jeans e faixa na cabeça – visual que o consagrou. A imagem tem os trejeitos do músico no palco e até dança, mas a disposição do palco atrapalha. George Israel, particularmente, parece não encontrar seu espaço e acaba ficando na frente do músico homenageado.
Por estar no fundo, Cazuza parecia menor do que os outros músicos. Até mesmo a imagem um pouco borrada, com pouca definição, pareceu satisfazer a quem foi ao Parque da Juventude. A cada uma das cinco músicas em que o músico aparecia, sua imagem na tela era o suficiente para criar histeria. Ele apareceu por 18 minutos, entre idas e vindas. Além de “Exagerado”, o holograma cantou “Faz Parte do Meu Show”, “Amor, Amor”, “O Tempo Não Para” e “Brasil”. Cazuza saiu de cena pela última vez enrolado em uma bandeira do Brasil, reverenciando a plateia. Com um “obrigado”, ele se despediu
A banda ainda permaneceu no palco após a despedida, para “Bete Balanço”, “Pro Dia Nascer Feliz”, novamente. Ao fim de duas horas de show e 20 minutos de Cazuza, uma palavra deve ficar nos quase 30 mil presentes no Parque da Juventude: saudade.
O GVT Music Live – Show Cazuza voltará, também com entrada gratuita, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, no dia 19 de janeiro.